Escolher alguém para partilhar a vida
- Luciana Vanini

- 18 de set.
- 3 min de leitura
Conheci a autora Lori Gottlieb através do livro Talvez você deva conversar com alguém, uma leitura que recomendo de coração. Fui em busca de outros títulos da mesma autora e encontrei Mulheres que Escolhem Demais. Nesse livro, Lori compartilha sua experiência como mulher solteira aos 40 anos e fala sobre como expectativas muito rígidas podem atrapalhar a busca por um relacionamento.
Por ser um tema que aparece com frequência nas sessões de psicoterapia: a dificuldade em encontrar um(a) parceiro(a), as expectativas criadas e a frustração quando a realidade não corresponde ao ideal. Este não é um manual de dicas, mas um resumo de alguns aspectos do livro que me chamaram atenção e podem ser um convite à reflexão, e é isso que gostaria de dividir com você.
No processo de escolha de um relacionamento afetivo há a tendência de olhamos primeiro para critérios bem objetivos: altura, idade, profissão, faculdade, aparência. Esses aspectos, embora comuns, não garantem um relacionamento saudável. Por outro lado, qualidades mais subjetivas, como maturidade, gentileza, senso de humor e capacidade de se comprometer, podem ficar em segundo plano, quando na verdade são elas que sustentam uma relação a longo prazo. É um convite a pensar no que realmente importa na escolha.
Ao invés de esperar pelo(a) parceiro(a) “perfeito(a)”, a autora sugere abrir espaço para alguém “razoável” — uma pessoa com quem exista respeito, afinidade, cuidado, reciprocidade, sem a exigência da perfeição. Isso não significa aceitar qualquer coisa, mas sim perceber que nem sempre aquele detalhe que achamos indispensável é realmente essencial. Muitas vezes, é no inesperado que encontramos o que de fato nos faz bem.
Esse processo, claro, não é simples. Requer olhar para si e entender quais critérios são seus e quais foram impostos pela sociedade ou cultura. Às vezes, acreditamos estar em busca do(a) parceiro(a) “ideal”, quando na verdade estamos apenas tentando atender a um modelo valorizado socialmente. Essa pode ser uma armadilha dolorosa: estar com alguém que parece “certo” aos olhos dos outros, mas não atende ao que é importante para você no dia a dia. A psicoterapia pode ajudar muito a diferenciar esses pontos.
Falando especialmente às mulheres: a cobrança social para casar até determinada idade ou ter uma família estruturada, ainda é forte. Essa pressão aumenta a insegurança, pode levar a escolhas precipitadas ou até a descartar pessoas interessantes só porque não correspondem a uma lista idealizada. Isso coloca muitas mulheres em desvantagem nesse processo de escolha, além de reforçar a importância de refletir com calma e autenticidade sobre o que realmente importa.
Temas para reflexões para mulheres solteiras:
• Avaliar seus critérios com gentileza: Quais são as expectativas que você colocou com base no que realmente importa para sua vida — valores, respeito, companheirismo, apoio — e quais são critérios que talvez venham de comparações, normas sociais ou idealizações?
• Aprender a distinguir entre “não o ideal perfeito” e “incompatível”: Às vezes rejeitamos pessoas que têm defeitos — ou simplesmente não encaixam num ideal — quando elas poderiam oferecer uma relação saudável, afetuosa e recíproca.
• Trabalhar autoestima e auto eficácia: Saber o que você quer, o que você valoriza, mas também sentir que você merece ser desejada, amada, com falhas e tudo. Que o respeito mútuo não é misericórdia, mas exigência básica.
• Paciência ativa: Não se trata de “aceitar qualquer coisa”, mas de permanecer aberta, de explorar, de aprender com cada experiência, de não descartar alguém porque ele não bate com os critérios da sua lista.
• Comunicar claramente: Quando você valoriza algo, por exemplo, gentileza, estabilidade emocional, afinidades, etc. Expressar isso em conversas de namoro pode ajudar a ver rapidamente se há correspondência ou dissonância.
Um alerta importante!
Se você quer ampliar seu conhecimento sobre esse tema sugiro a leitura do livro Mulheres que Escolhem Demais, lembrando que ele não é um manual para “baixar os padrões” no sentido de aceitar desrespeito, abuso ou relações unilaterais. O que ele propõe é uma reflexão sobre o que é razoável, o que é exigente demais, e o que está nos nossos medos ou pressões externas. Ou seja: escolher bem — mesmo que isso signifique escolher “razoável” em vez de ideal, mas nunca escolher menos do que alguém que reconheça seu valor.
Referência: Mulheres que escolhem demais, Lori Gottlieb.




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