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Sobre amar o próximo

  • Foto do escritor: Luciana Vanini
    Luciana Vanini
  • 2 de nov.
  • 6 min de leitura

Estudando sobre Terapia de Casal me deparei com o capítulo de um livro que me impactou profundamente. Como mulher, filha, mãe e psicóloga, fiquei extremamente comovida com as reflexões propostas pelo texto e considero importante para todos(as) que se importam com a sociedade que vivemos, o mínimo de informação que amplie seu conhecimento sobre esse tema.


Se você já ouviu falar sobre amar o(a) próximo(a), talvez seja valioso continuar sua leitura. O que escrevi está dividido em três partes independentes, sinta-se a vontade para ler apenas o que for do seu interesse ou melhor, o que você considerar que consegue digerir nesse momento.



Parte 1 - Orações para Bobby (tema sensível)


"Homossexualidade é um pecado. Os homossexuais estão condenados a passar a eternidade no inferno. E, se eles quiserem mudar, eles podem ser curados de seus hábitos malignos e pecaminosos.

Se eles desviarem da tentação, eles podem ser normais de novo, mas apenas se tentarem muito. E tentarem com mais afinco, caso não funcione.

Estas foram as coisas que eu disse ao meu filho, Bobby, quando descobri que ele era gay. Quando ele me disse que era homossexual, meu mundo desmoronou-se. Eu fiz tudo que eu pude para curá-lo da doença dele. Há oito meses, meu filho saltou de uma ponte e matou-se. Eu me arrependi profundamente da minha falta de conhecimento sobre gays e lésbicas. Hoje eu vejo que tudo que me ensinaram e disseram era odioso e desumano. Se eu tivesse investigado além do que me disseram... se eu tivesse, simplesmente, ouvido meu filho, quando ele abriu o coração para mim... então eu não estaria aqui hoje, triste, com vocês, cheia de arrependimento.

Eu acredito que Deus ficou contente com o espírito gentil e amável do Bobby. Aos olhos de Deus, tudo que conta é a gentileza, o amor.

Eu não sabia que, cada vez que eu ecoava a condenação eterna aos gays... que cada vez que eu me referia a Bobby como doente e pervertido e perigoso para as nossas crianças... a sua autoestima e o seu senso de valor próprio estavam sendo destruídos.

E, finalmente, seu espírito quebrou-se para além de qualquer conserto. Não era o desejo de Deus que Bobby se debruçasse sobre o muro de uma ponte e pulasse diretamente no meio do caminhão de 18 rodas que o matou instantaneamente. A morte do Bobby foi resultado direto da ignorância dos pais dele e do medo da palavra "gay". Ele queria ser escritor. As suas esperanças e os seus sonhos não deveriam ter sido arrancados dele, mas foram."


Mary Griffith, a mãe de Bobby, fez o seguinte discurso diante do Conselho Municipal de sua cidade:

"Existem crianças como o Bobby sentadas em suas congregações desconhecidas para vocês, e elas vão ouvir enquanto vocês ecoam "Amém". E isso logo silenciará as orações delas. As orações delas pedindo a Deus compreensão e aceitação e por seu amor, mas o ódio e o medo e a ignorância a respeito da palavra "gay" silenciarão suas orações. Então, antes de ecoarem "amém" em sua casa e outros locais de adoração, pensem. Pensem e lembrem: uma criança está ouvindo."


Esse conteúdo se refere ao Prayers for Bobby (Orações para Bobby) é um filme americano de 2009 que relata a história real da vida e do legado de Bobby Griffith, um jovem gay que se suicidou em 1983, sob forte pressão do fanatismo religioso e da homofobia de sua família.



Parte 2 - Por que tantas pessoas estão se "tornando gays"?


Essa foi a pergunta que uma senhora fez em um auditório a Doyle (2020) que estava dando uma palestra. Sua resposta fez muito sentido pra mim, ao afirmar que "não acredita que a homossexualidade seja contagiosa, mas a liberdade sim." E ela continua explicando "a sexualidade e as identidades de gênero são fluidas como água, podendo se expressar nas mais diversas nuances, enquanto as categorias são como copos, os quais favorecem a descrição de determinadas características e especificidades importantes, mas acabam inevitavelmente limitando, não são capazes de contemplar toda riqueza da diversidade."

Talvez um dia sejamos capazes de nos livrar definitivamente do sistema de copos e podemos ouvir a nós mesmos e aos outros com curiosidade e amor, sem medo. Nossa coragem de estarmos confusos, abertos e amorosos vai salvar vidas, conforme Doyle.


Sidman, em seu livro Coerção e suas implicações, afirma que "o sofrimento não tem origem em algo interno à vítima de opressão ou na sua sexualidade, mas está diretamente relacionado a um contexto de invalidação, exigências desiguais, abuso, desrespeito e violência."


E se você tem o respeito como valor pessoal, poderá contribuir com a mudança dessa realidade, como? Comece perguntando como a pessoa gostaria de ser identificada/chamada.


Se você leu até aqui, fico feliz em poder proporcionar um pouco do material que tive acesso e quem sabe te fazer pensar sobre o tema. O que vem a seguir é informação, para entender que os copos existem e, você pode deixá-los de lado e contemplar o mar.



Parte 3 - Para entender melhor...


As categorias que representam as diferentes sexualidades e identidades de gênero têm importantes funções políticas e de acolhimento, seguem abaixo algumas definições importantes:


Sexualidade humana é formada pela combinação de fatores biológicos, psicológicos e sociais. Trata-se de um conceito dinâmico, relacionado a significados, ideias, desejos, sensações, emoções, experiências, condutas, proibições, modelos e fantasias que são considerados de modos diversos em diferentes contextos sociais e períodos históricos.


Sexo biológico refere-se às características biológicas que a pessoa tem ao nascer, que incluem cromossomos, genitália, composição hormonal, capacidade reprodutiva, características fisiológicas secundárias, entre outras. Com base nessas características a pessoa pode nascer macho, fêmea ou intersexual.


Intersexualidade é quando existe uma variação nas características genéticas e/ou somáticas da pessoa, fazendo com que, ao nascer, sua anatomia reprodutiva e sexual não possa ser encaixada nas definições típicas do feminino ou do masculino por conter uma mistura das características de ambas.


Identidade de gênero é uma experiência privada e individual que pode ou não corresponder ao sexo atribuído no nascimento, incluindo o senso pessoal do corpo e outras expressões de gênero, incluindo vestimenta, modo de falar e maneirismos. A identidade de gênero da pessoa, não necessariamente é visível para as demais, e nem sempre corresponde ao seu sexo biológico.


Gênero reflete a percepção que uma pessoa tem de si como sendo do gênero masculino, feminino, de alguma combinação ou negação dos dois, independente do sexo biológico.


Expressão de gênero refere-se a como a pessoa se manifesta publicamente, por meio do seu nome, do pronome de tratamento que reivindica, da vestimenta, corte de cabelo, dos comportamentos, da voz e/ou características corporais e da forma como interage com as demais pessoas.


Pessoas cisgênero são aquelas que se identificam com o gênero correspondente ao sexo designado em seu nascimento.


Pessoas transgênero ou transexuais são aquelas que possuem uma identidade de gênero diferente daquela correspondente ao sexo designado em seu nascimento. Uma curiosidade é que travestis, independente de como se reconhecem, preferem ser tratadas no feminino (as travestis - pronome "ela"). A orientação sexual da pessoa trans, assim como a das pessoas cis, independe de sua identidade de gênero, e pode ser heterosexual, bissexual, homosexual, pansexual, etc.


Orientação sexual se refere à capacidade de cada pessoa de ter uma profunda atração emocional, afetiva ou sexual por indivíduos de sexo/gênero diferente, do mesmo sexo/gênero ou por mais de um sexo/gênero, assim como ter relações íntimas e/ou sexuais com essas pessoas. Trata-se de uma inclinação involuntária, de modo que, além de equivocado, pode ser bastante ofensivo utilizar termos como "escolha" ou "opção sexual".


Heterossexuais são pessoas que sentem atração sexual, emocional e/ou afetiva por pessoas do sexo/gênero oposto ao seu.


Homossexual é o termo atribuído à pessoa que se sente atraída sexual, emocional e/ou afetivamente por pessoas do mesmo sexo/gênero (cis ou trans). Não é necessário que a pessoa tenha tido, necessariamente, experiências sexuais com outras pessoas do mesmo sexo/gênero para se identificar como homossexual.


Bissexual é a pessoa que sente atração emocional, afetiva e/ou sexual por pessoas dos dois sexos/gêneros ainda que não tenha tido relações sexuais com ambos.


Pansexualidade refere-se a uma orientação que rejeita especificamente a noção de dois gêneros e orientação sexual específica.


Assexualidade estrita referre-se à ausência de atração sexual de qualquer sexo/gênero.


LGBTQIAPN+ é a configuração mais recente da sigla usada atualmente e uma abreviação da sigla usada é LGBTI+.


"+" ao fim da sigla faz referência ao seu viés descritivo e inclusivo, significando que a sigla permanece aberta a inclusão de possibilidades em relação a orientações sexuais, identidades e expressões de gênero.


Fico feliz que você tenha chegado até aqui e espero de alguma forma ter contribuído para ampliar sua visão sobre esse tema tão importante.


Pessoas LGBTI+ estão entre as principais vítimas de homicídio e suicídio no mundo, que sejamos agentes de transformação em uma cultura que oprime e exclui tudo que é diferente dos padrões rigidamente estabelecidos.



Referência: Relações amorosas, terapia de casais e análise do comportamento.

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lucazvbeluci
15 de nov.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Muito bom

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© 2019 por Luciana Vanini Psicóloga

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